terça-feira, 4 de outubro de 2011

3ª São Chico Eco Running - 1º de outubro de 2011

Meus Ecos e Minhas Ecas,

                Há coisas que a gente não consegue explicar exatamente por que acontecem. Eu mesmo não sei dizer por que gosto tanto de determinadas travessuras: levantar às cinco da manhã de um sábado frio e chuvoso, viajar de carro até a serra e correr vinte e cinco quilômetros no meio do mato escorregando na lama, rolando nas pedras e achando um espetáculo! Bem, eu posso ser louco, mas não sou o único – havia, pelo menos, mais uns duzentos iguais a mim participando dessa brincadeira. 

               E após essa breve avaliação “psico-filosófica-sócio-cultural” deixem-me mostrar-lhes o que realmente aconteceu no último sábado. É muito difícil, mas, ainda assim, vou tentar.

                A corrida aconteceu em São Francisco de Paula, local de belíssimas paisagens distante, apenas, 112 km de Porto Alegre. O visual? Incrível! Campos, estradas de terra, matas e floretas de pinheiros num total aproximado de 60 km. O percurso inteiro foi dividido pela AUDAX 4 (organizadora do evento) em seis trajetos com diferentes graus de dificuldade em função da altimetria, das distâncias e dos pisos.

                Sábado, dia 1º de outubro, levantei às 5 da madrugada e às 06h 15min apanhei o Beck – ele havia combinado a carona comigo.            Chegamos ao Hotel das Araucárias, local do início da prova, por volta das 8h 45 min. Às 10h foi dada a largada. O primeiro trecho tinha 8,5 km. Seu piso era de asfalto na maior parte, mas também havia bastantes estradas de terra. Praticamente um trajeto urbano com os últimos 2 km em meio à natureza. Devido aos poucos desníveis, considerado de dificuldade média.  

De carro, eu e o Beck (que iria correr o 5º trecho em um sexteto) partimos para o Rincão das Cabritas, local da transição para o 2º trecho, o qual eu correria. Lá, enquanto aguardava a chegada da minha parceira, fiquei observando as cabritas... Coitadas... Todas elas desiludidas... Tristes... Abandonadas por aquele nipônico desavergonhado que vocês conhecem. Não quero nem mencionar o seu nome. Tal sujeito não merece ser citado em um post de família como este. Abaixo, a criatura parece perguntar aos circunstantes pelo paradeiro do amado...


                Deixemos estas indecências de lado e voltemos ao que interessa.

Recebi a pulseira e saí mandando lenha. Fiz, conforme já disse, o 2º trecho – Boa Vista/ Samambaia - e considerei-o duríssimo! Subidas longas e íngremes e piso escorregadio formado por terra, pedras, lama e limo conferiam grande dificuldade ao percurso. 15,25 km no total. Bem, tinha uma coisa muito especial: as paisagens fantásticas! Em meio a todo o sofrimento, pude apreciar os bucólicos aspectos da vida no campo. Aos trancos e barrancos, literalmente, consegui finalizá-lo.

                Passei o pequeno adereço encarnado para o meu amigo, Daniel Klein. Ele saiu fortíssimo para cumprir o 3º trecho – Lago São Bernardo. 7,14 km de calçamento irregular com 33% de estrada de terra. Considerado de dificuldade média com boas subidas e a lindíssima paisagem proporcionada pelo referido lago.

                Quando passei para o Oto, percebi que havia perdido um objeto muito importante e tive que voltar ao hotel para procurá-lo. Como o bom Deus ajuda as crianças e os desmiolados, consegui achar e voltei desembestado para substituir o pobrezinho do Oto. Quando chegamos à frente do Hotel Cavalinho Branco, ponto de partida para o 4º trecho, o Beck me avisou que meu parceiro tinha acabado de iniciar, dobrando, o meu segundo percurso. Esse foi chamado de Parque das Cachoeiras, tendo, ao todo, 9,1 km. Desses, 4 km por entre as ruas da cidade, e 5 km de matas e morros de uma beleza inacreditável!

Saí, estimulado pelo Beck, feito um demente na tentativa de alcançar o Oto. Eu queria encontrá-lo e substituí-lo para que ele pudesse descansar. Quanto mais eu forçava, mais me convencia de que não tinha jeito nem maneira. Mas, como Deus ajuda os desvairados, fez brotar ao meu lado um carro, cujo motorista me ofereceu água. Agradeci e pedi que ele fosse adiante e mandasse o Daniel parar – era só ele ver o número 337 na camisa. Deu certo! Já não era sem tempo! Recebi a pulseira, abraçamo-nos e beijamo-nos efusivamente e eu segui a descida mandando muita bala!

                Só agora, com a cabeça um pouco mais aliviada, eu fui me dar conta de que o trecho era uma enorme descida. Abri ao máximo a passada e deixei rolar. Estava me sentindo poderoso ao ultrapassar um monte de mulheres e anciãos. Não porque eu corresse melhor do que eles, mas por que eles são muito mais cuidadosos do que os alucinados.

                E tome descida! Aquilo não acabava mais! Que maravilha – passada aberta e morro abaixo! Já estava começando a sentir aquele cheiro forte de enxofre quando cheguei a um pórtico de pedras onde havia um posto do corpo de bombeiros. Ali, uma moça com uma prancheta me informou: “é aqui!” E eu perguntei: “é aqui o quê?” Sorridente, ela me respondeu: “é aqui que volta!” Gente do céu... Foi então que descobri que Deus ajuda os burros também! Foram quase três quilômetros de uma subida sem fim!

                Quando cheguei ao plano e achei que o sofrimento havia acabado, veio a pior parte. Eu correra os últimos quilômetros escutando uma passada forte atrás de mim. Ali, no asfalto da rodovia, o cara encostou ao meu lado e começou a puxar papo. Mas, para ser sincero com vocês, eu confesso que não tinha nenhuma condição de conversar! De repente, sem querer, eu olhei para o peito do adversário e vi o seu número. Eu nem conseguia ler direito, mas vi que começava com “3”. Então eu decidi: não vai me passar nem com banda! Dei um sprintão final e consegui chegar uns 20 metros a sua frente. Quase morri – cheguei vomitando, botando os bofes prá fora!

                O Daniel Klein partiu, extremamente prejudicado, para a realização do 5º trecho – Campos e Pinus. Um trajeto muito bonito, pois passa por dentro de uma plantação de pinheiros, mas a irregularidade do piso, as pedras e os aclives tornam-no muito difícil. Isso sem mencionar a distância de 14,4 km de terra e trilhas.

                Fui esperar o Dani no início do 6º e último trecho. Lá, encontrei mais atletas da Equipe Daniel Rech, que também esperavam por seus companheiros. Enquanto aguardávamos, eu e as meninas quisemos ir ao gabinete sanitário. Atrás da cerca, mostrada na foto abaixo, só havia um toalete feminino. Vocês acreditam que elas não me deixaram entrar? Nunca vi tamanho preconceito! Só faltaram me mandar defecar no mato! Bem... Elas não me mandaram, mas eu fui assim mesmo...


                O Beck chegou e passou para a Ju. O que seria aquele anotador com a prancheta? Um guasca camuflado ou um camufla guascado?


                Em seguida chega o Daniel.


                O Daniel chegou muito bem – a cara dele é assim mesmo!


                As crianças se sentaram na grama para receber os carinhosos cuidados do Ricardão e do Marino.


                Antes de encerrar o post quero parabenizar a todos os atletas da Equipe Daniel Rech que participaram deste desafio. Conquistamos um 4º e um 5º lugar de muito valor, pois, conforme narrei aqui, a prova foi realmente desafiadora: Daniel Klein Ebesen, Lúcia, Karin, Roberta Arenare, Siomara, Manair, Dalila, Marino, Ricardo, Jorge e Beck – parabéns!

                Apesar de todos os acontecimentos mencionados, não posso ser mais uma vez displicente e deixar de prestar os devidos créditos à Audax 4. A prova estava perfeita, mas, como crítica construtiva, sugiro apenas que pensem se já não é chegada a hora de se mudar o local do evento. O espaço disponibilizado pelo Hotel das Araucárias é insuficiente para todas as necessidades da organização e dos participantes – devido ao mau tempo e à chuva, a sala ficou ainda menor. Pensem nisso com carinho. Uma mudança positiva nesse aspecto trará uma melhora significativa à realização.

                E também não posso terminar sem desejar muitas felicidades e tudo de bom para a nossa querida Larinha e para o Gustavo, que se casaram no sábado à noite. Estivemos muitíssimo bem representados na festa, mas acho que está faltando pelo menos uma cabrita na foto abaixo...


                Desejando que Deus cuide e guarde todos aqueles que me presenteiam com a leitura dessas mal traçadas linhas, despeço-me.

                Abraço prá quem for de abraço, e beijo prá quem for de beijo!

Juarez Lucas

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